Anta da Pedra da Orca

Anta da Pedra da Orca by VRfoto
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GOUVEIA (Portugal): Anta da Pedra da Orca.

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Terá sido o fundador, na cidade de Guimarães, da referencial "Sociedade Martins Sarmento", e respectivo museu, o conhecido investigador Francisco Martins de G. M. Sarmento (1833-1899), quem examinou primeiramente de perto a "Anta da Pedra da Orca", ou "Anta do Rio Torto", como será localmente mais conhecida, assim como o termo "anta" corresponde à denominação regional de uma tipologia megalítica conhecida pela comunidade científica internacional a partir da sua designação francesa: dolmen.
Apesar de viver em Guimarães e convergir a sua investigação essencialmente para a região minhota, F. Martins Sarmento seria convidado pela não menos referencial Sociedade de Geographia de Lisboa, da qual era membro, a coordenar uma das secções (a de Arqueologia) a integrar a célebre (em razão do papel precursor que assumiria no panorama científico português da época) expedição Scientifica à Serra da Estrella.
Projectada um ano volvido sobre as comemorações nacionais desse momento tão importante para a afirmação do país no palco da política internacional - o centenário camoniano -, e após o acolhimento, em Lisboa, de uma das sessões (a IX) mais concorridas e amplamente divulgadas pelos periódicos europeus da altura do Congresso Internacional de Anthropologia e Archeologia Prehistorica, sob a égide do consagrado antropólogo e arqueólogo francês Gabriel de Mortillet (1821-1898), a Expedição previa a realização de um levantamento exaustivo das riquezas (como eram então entendidas) de uma das regiões mais inóspitas do país. Mas não só. Com efeito, para além das características agrestes da zona, atraía certamente a direcção da Sociedade o facto de a Serra da Estrela se ter confundido desde cedo no imaginário e na historiografia nacional como o último reduto de resistência de um povo - o Lusitano - ao poder de Roma, personificada pela figura de Viriato, habitante dos Montes Hermínios.
E por se tratar de uma região escassamente percorrida por individualidades munidas dos conhecimentos necessários à identificação das suas especificidades, independentemente da sua origem, acreditava-se que seria precisamente aí, nesses recônditos mal conhecidos, que se encontrariam as características primeiras do ser, estar e actuar português, como que cristalizado pela barreira que a sua Natureza lhe conferira ao longo dos séculos. Particularidades que se acreditava materializadas nos testemunhos megalíticos, designadamente funerários, porquanto considerados durante largo tempo como as estruturas humanas mais antigas.
Foi, no entanto, objecto de investigação apenas em 1895, dessa feita da responsabilidade de Maximiliano Apolinário. Recolheu, então, neste arqueossítio, várias pontas de seta de sílex e de quartzo, a par de contas, um vaso de argila, diversos fragmentos cerâmicos e ossos humanos, conduzidos para o Muzeu Etnographico Portuguez, fundado dois anos antes por José Leite de Vasconcellos (1858-1941), seu carismático director.
Composta de câmara sepulcral de planta poligonal, com cerca de três metros e meio de diâmetro, formada por sete esteios inclinados para o interior, com o respectivo corredor (curto) de acesso, a anta (erguida no cimo de uma pequena elevação) ainda mantém a laje de cobertura - ou "chapéu", não se detectando, contudo, vestígios da mamoa - ou tumulus - que cobriria originalmente todo o monumento. br>Indicando a antiguidade do povoamento humano nesta região, o dólmen inserir-se-á no terceiro grupo esquematizado por S. O. Jorge para o megalitismo da Beira Alta, a partir da sua análise morfológica: "[...] dólmens de câmara subtrapezoidal ou poligonal, de corredor mais ou menos indiferenciado." (JORGE, S. O., 1990., p. 135), certamente como reflexo de um processo capital de evolução estrutural da sociedade (Ibid.) que o projectou e fruiu. [AMartins]

info: www.igespar.pt/pt/patrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimo...

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