Igreja Matriz de Barcelos


BARCELOS (Portugal): Igreja de Santa Maria Maior, matriz de Barcelos.

A igreja de Santa Maria Maior de Barcelos situa-se num tempo artístico de transição, entre o fim da arte românica e o início do ciclo construtivo gótico. Algumas das soluções construtivas e decorativas aqui empregues participam destas duas artes, que começaram por ser antagónicas, pelo menos na região da Île-de-France, onde nasceu o Gótico, mas que, em zonas periféricas, se mesclaram e interpenetraram, formando um estilo de transição a que muitos chamam românico-gótico.
A iniciativa construtiva deveu-se ao conde D. Pedro, no século XIV, depois de estarem concluídos os exemplos marcantes do Gótico mendicante de Santarém, do Olival de Tomar ou de Santa Clara-a-Velha de Coimbra. O seu aspecto compacto e arcaizante, em consequência da implantação geográfica da velha nobreza românica, deve-se também ao facto de a iniciativa condal trecentista ter-se situado ao nível de uma provável remodelação do edifício, e não de uma construção de raíz.
Várias hesitações construtivas identificadas na igreja parecem apontar para essa realidade remodeladora. O facto de a nave norte ser mais larga que a sul ou de os capitéis parecerem ser maioritariamente do século XIV, por oposição às bases de colunas ainda românicas (C. A. Ferreira de Almeida, 1990, p.43) faz-nos pensar nessa possibilidade. Por outro lado, a história da vila de Barcelos, com foral desde D. Afonso Henriques e sede de condado desde D. Dinis, é uma factor de importância vital para a provável concentração de uma actividade construtiva relevante e que não terá começado certamente apenas no século XIV.
Apesar do aspecto geral românico, a matriz barcelense deve inserir-se já no período gótico, como o portal principal bem o evidencia. Inserido num corpo avançado e ladeado por dois poderosos contrafortes - um elemento claramente comprometido com o românico -, não possui tímpano e os capitéis das arquivoltas são integralmente vegetalistas (C. A. Ferreira de Almeida, 1986b, p.68). Igualmente gótica é a organização espacial interna. Ao que tudo indica, a construção trecentista optou por arcos torais e formeiros, uma solução vigente em alguns edifícios românicos e com uma longa duração na tradição construtiva galega. A atenção que os condes dedicaram à igreja determinou, no entanto, que uma remodelação do século XV suprimisse este esquema e dotasse o interior da Matriz com uma espacialidade vincadamente mendicante (C. A. Ferreira de Almeida, 1990, p.43). Um espaço que numa primeira abordagem poderia significar um dos primeiros testemunhos góticos no Entre-Douro-e-Minho, pertence efectivamente ao século XV, dado que, a juntar às remodelações quinhentistas e setecentistas, apenas vem confirmar a necessidade de um estudo monográfico rigoroso sobre a história da Matriz de Barcelos em relação com a casa ducal.
Nos alvores da Modernidade, a Igreja Matriz de Barcelos era o principal templo da localidade e um dos mais importantes da região. É por este facto que vamos ver aparecer, nesta altura, algumas capelas funerárias privadas e enterramentos isolados no espaço da Matriz-Colegiada. De todos eles, o mais importante é o da família Pinheiro, cujo paço se localiza muito perto do monumento. Este panteão, datável dos meados do século XVI, constitui um dos melhores testemunhos da arte renascentista no Entre-Douro-e-Minho. Outras obras marcaram a transição para a Idade Moderna, como a nova abóbada da capela-mor, obra manuelina, de perfil estrelado, custeada em 1504 por um judeu local, D.Gil da Costa, cujo nome e data constam do bocete central. Posteriormente, todo o interior do templo foi decorado ao gosto barroco, datando dos séculos XVII e XVIII o notável conjunto de retábulos e, principalmente, o integral revestimento das paredes com azulejos azuis e brancos, importados de Lisboa e das grandes oficinas de inícios de Setecentos.
PAF

info: www.igespar.pt/pt/patrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimo...

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