Sé catedral de Viana do Castelo


VIANA DO CASTELO (Portugal): Sé catedral.

A Sé de Viana é o primeiro capítulo do enorme desenvolvimento de Viana da Foz do Lima durante os últimos tempos da Idade Média e o primeiro século da Modernidade. A sua construção iniciou-se em 1400, já sob o signo da dinastia de Avis e como marca de autoridade do novo monarca. Concluiu-se em 1433, depois de três décadas de trabalhos, ao que tudo indica sem interrupções, que revelam o desafogo económico e a constância de recursos para aqui canalizados. Contudo, as obras ter-se-ão arrastado ainda por algum tempo, pois em 1439 faltava ainda terminar uma das torres (FERNANDES, 1990, p.52).
Artisticamente, a igreja constitui um dos melhores exemplos do que terá sido o gótico joanino antes da introdução do flamejante por Mestre Huguet na Batalha. Com efeito, se pensarmos que a Colegiada de Guimarães lhe é contemporânea, e que D. João I não ficou agradado com o resultado da obra vimaranense, podemos encontrar tendências semelhantes em ambas, que ajudam a caracterizar esta etapa. A principal marca é a extrema robustez, conotada, mesmo, com um certo arcaísmo. Se em Guimarães existe uma torre quadrangular anexa à fachada, a Matriz de Viana possui duas, dispostas de forma harmónica (ladeando o corpo central), que terminam numa estrutura ameada de impacto cenográfico. A fachada principal foi, assim, construída à maneira das velhas catedrais românicas de Coimbra ou de Lisboa, e não dispensa o aspecto fortificado que caracteriza estes templos.
O conjunto escultórico que envolve o portal principal é a realização mais original da empreitada medieval, na medida em que constitui um dos raríssimos exemplos de entradas escultóricas do nosso Gótico (outro exemplo antes da revolução da Batalha é a portada da Sé de Évora, e só). Cristo reinando coroa a composição (no fecho da última arquivolta e não no tímpano, inexistente), ladeado por uma visão da corte celestial, e a entrada na igreja é protegida por seis apóstolos. Sobre o aparecimento desta obra em Viana, não restam dúvidas sobre a acção de grande parte da companhia que efectuou o portal da igreja galega de Noya (c.1434), como provou Flávio Gonçalves (GONÇALVES, 1961, pp.11 e 16).
O interior apresenta uma composição também bastante comum no Gótico nacional e cujas características básicas haviam sido definidas dois séculos antes. Três naves, de cinco tramos, separadas por arcarias quebradas (iluminadas por um grande janelão da fachada principal e por frestas laterais) e uma cabeceira tripartida, com a capela-mor de maior relevância volumétrica, é o que de mais comum a arquitectura paroquial gótica produziu. A relativa inovação, que neste caso deve ser entendida como uma tentativa de maior prestígio do edifício, é dado pela existência de um transepto saliente, solução que reforça mais a proximidade para com as catedrais (e os grandes conventos mendicantes) e menos para com a arquitectura paroquial
No século XVI, em pleno período áureo de Viana, a igreja foi alvo de numerosos melhoramentos e, mais importante, da instituição de várias capelas privadas, com função funerária. Destas, destaca-se a capela dos Camaridos, junto ao braço Norte do transepto, com o seu duplo arco de volta perfeita, inserido numa moldura quadrangular limitada por colunas torsas, e a abóbada polinervada.
A capela dos Mareantes (a mais importante no século XVI) e a do Senhora da Cana Verde, construída por João Lopes já sob o signo do Maneirismo, provam como o espaço não cessou de ser enriquecido. Nos inícios do século XVIII, sob o impulso do enérgico arcebispo bracarense D. Rodrigo de Moura Teles, teve lugar uma campanha barroca de que resta, por exemplo, o aspecto geral da capela-mor, datada de 1713. Mas a história da Matriz de Viana conta também com momentos de destruição, como os incêndios de 1656 e 1809. Este último obrigou ao encerramento da igreja durante quase trinta anos, reabrindo finalmente em 1835 com as marcas próprias de um neoclassicismo cenográfico acima dos arcos divisores das naves.
PAF

info: www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel...

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